Reggio Emilia: saiba quais são os 7 princípios dessa filosofia

Nela, o educador não é visto como o único detentor do saber nem o aluno como o único receptor. Em vez disso, o que se busca é o conhecimento construído em conjunto.

A criança é considerada como ser autônomo, confiante e capaz de protagonizar a construção do próprio conhecimento. A individualidade e o potencial de cada uma são reconhecidos e desenvolvidos.

Além do conteúdo, a escola valoriza as artes e a organização do próprio espaço físico. Tudo isso torna o processo ensino-aprendizagem mais dinâmico e criativo.

Como surgiu a filosofia Reggio Emilia?

Reggio Emilia é o nome de uma cidade italiana arrasada pela Segunda Guerra Mundial. O Pós-Guerra, iniciado em 1945, trouxe questionamentos sobre que tipo de sociedade as pessoas queriam para seus filhos e netos.

As mães viúvas tiveram de ocupar o mercado de trabalho, enquanto deixavam seus filhos nas escolas. Preocupadas, queriam que o ambiente escolar fosse o mais acolhedor possível.

Em conjunto, a comunidade de Reggio Emilia construiu uma escola a partir dos escombros. Essa era uma mensagem que passavam aos mais novos: uma visão de mundo participativa, solidária e proativa.

Aquela história inspiradora foi se espalhando até chegar ao pedagogo Loris Malaguzzi. Tocado, ele se ofereceu para elaborar um projeto educacional que fizesse justiça à luta daquelas pessoas.

Mulher sentada, com três meninas e brinquedos. Imagem ilustrativa texto Reggio Emilia.

O modelo de Malaguzzi foi pensado para a educação de crianças de até seis anos de idade. Ainda assim, tem servido de inspiração para as etapas posteriores à educação infantil em escolas do mundo inteiro.

Quais são os 7 princípios da filosofia Reggio Emilia?

Por ser um trabalho reflexivo, a metodologia está em constante mudança. De qualquer forma, a Reggio Emilia sempre baseia nos princípios listados a seguir.

1. Criança protagonista da própria aprendizagem

A criança deve ter uma postura ativa no processo de ensino e aprendizagem. Ela é investigadora, comunicadora e explora seu potencial a partir de linguagens que vão além da codificada.

As experiências sensoriais estimulam e constroem o conhecimento. Elas incluem a construção de modelos, maquetes e o movimento do corpo para manejar objetos e ferramentas multimídia.

Já falamos aqui sobre os direitos de aprendizagem e sobre os campos de experiência determinados pela Base Nacional Curricular Comum (BNCC). Nesse sentido, a Reggio Emilia dialoga muito bem com o documento.

2. Arte como importante linguagem de expressão

A criatividade conecta pessoas e objetos. Na abordagem Reggio Emilia, a pintura, a música e a contação de histórias são entendidas como formas de linguagem e expressões do pensamento.

As artes permitem a experimentação, o que leva o aluno a estabelecer relações entre objeto e conhecimento e, assim, levantar hipóteses. O educador, por sua vez, apresenta novas vivências estéticas e ensina a usar os materiais.

Blocos de montar de madeira. Imagem ilustrativa texto Reggio Emilia.

Falando nisso, os brinquedos que mais estimulam a criatividade são aqueles que podem ser montados e desmontados. Um bom exemplo são os blocos de madeira. Brinquedos feitos de materiais reciclados também são ótimos.

3. Construção do ambiente planejada

A escola deve inspirar a sensação de liberdade, segurança, bem-estar e pertencimento. O ambiente é parte fundamental para as relações, comunicações e encontros entre pessoas de todas as idades.

Todos os espaços físicos devem buscar aproveitar a luz natural, com paredes de vidro, e jardins e praças que convidem a encontros. Ainda assim, deve haver salas menores para aqueles que sentirem necessidade de refúgio.

O mobiliário deve permitir que o aluno modifique o espaço e o explore livremente nas brincadeiras. Na verdade, o ambiente é visto como o terceiro professor e deve permitir o aprendizado por meio da exploração.

4. Cooperação é base da educação

Ao mesmo tempo em que a individualidade é valorizada, a criança não é considerada isoladamente. A filosofia Reggio Emilia vê a aprendizagem como um processo subjetivo e construído em grupo.

Em seu dia a dia, a criança se insere em diferentes meios físicos e ideológicos. Ela se depara com diferentes pontos de vista, formas de pensar e agir, e essa interação social traz aprendizado.

A vida em comunidade e a cooperação são fundamentais para o desenvolvimento da pleno da criança. Isso inclui o professor, os demais profissionais da escola, a Secretaria de Educação e a família.

5. Professor guia e aprendiz

O professor deve estar disposto a escutar. Assim, ele entende o que atrai o interesse e a curiosidade do aluno. A partir daí, cria um ambiente seguro para estimular experimentos e a exploração do mundo ao redor.

Por isso, o professor deve ser observador, pesquisador, parceiro e guia. Além de tudo isso, aprendiz. Dessa forma, ele eleva a autoestima da criança ao escutá-la da forma que gostaria de ser ouvida.

Professoras arrumando o cabelo de meninas. Imagem ilustrativa texto desafios da educação infantil.

Toda criança tem algo a dizer e todas as suas formas de linguagem são consideradas, das palavras às ações. A observação e a escuta ficam melhor garantidas se cada turma tiver, pelo menos, dois professores.

6. Família parceira no ensino e na aprendizagem

O ideal é que a escola não tenha muros. O que isso quer dizer? Que a aprendizagem não se resume aos 50 minutos de cada aula. Todo mundo pode contribuir ativamente no processo de ensino-aprendizagem.

Não importa qual seja a composição da família, ela é o primeiro vínculo de aprendizagem que um indivíduo tem na vida. Por isso é tão importante que tenha uma relação de parceria com a escola.

Os pais devem ajudar no planejamento do percurso pedagógico da criança e participar dos encontros com educadores. Além disso, é bom que acompanhem as reuniões do conselho e contribuam com as políticas escolares.

7. Documentação pedagógica

Como o mundo não é compartimentado, a escola aposta em projetos interdisciplinares. O aluno é convidado a buscar informações, refletir sobre elas e apresentar suas conclusões aos colegas.

Documentar os trabalhos e experiências de cada um é uma forma de entender e valorizar não só o resultado, mas tudo que fez parte do processo. Aliás, a escola deve ser ter espaços pensados para expor os trabalhos.

Textos, imagens e objetos permitem resgatar relatos e dão base para outras experiências pedagógicas. Essa documentação não define a trajetória do aprendizado, mas serve para a reflexão sobre o processo.

As cem linguagens da criança

O poema As cem linguagens da criança, escrito pelo próprio criador Loris Malaguzzi diz muito sobre o que é a filosofia Reggio Emilia. Confira a tradução na íntegra.

“A criança é feita de cem.
A criança tem cem mãos, cem pensamentos, cem modos de pensar, de jogar e de falar.
Cem, sempre cem modos de escutar as maravilhas de amar.
Cem alegrias para cantar e compreender.
Cem mundos para descobrir. Cem mundos para inventar.
Cem mundos para sonhar.
A criança tem cem linguagens (e depois, cem, cem, cem), mas roubaram-lhe noventa e nove.
A escola e a cultura separam-lhe a cabeça do corpo.
Dizem-lhe: de pensar sem as mãos, de fazer sem a cabeça, de escutar e de não falar,
De compreender sem alegrias, de amar e maravilhar-se só na Páscoa e no Natal.
Dizem-lhe: de descobrir o mundo que já existe e, de cem, roubaram-lhe noventa e nove.
Dizem-lhe: que o jogo e o trabalho, a realidade e a fantasia, a ciência e a imaginação,
O céu e a terra, a razão e o sonho, são coisas que não estão juntas.
Dizem-lhe: que as cem não existem. A criança diz: ao contrário, as cem existem.”

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