Uma Jovem de Bom Coração, uma Cobra, caminhos inóspitos, solidão, desesperança, ingratidão, bondade, proteção, amor… São muitos os emaranhados que cobrem a história de A trapaça de serpente.
O livro de Sandra Bittencourt nos conduz pelos caminhos da África, suas histórias e seus símbolos. A autora compartilha conosco a riqueza da cultura e a sabedoria daqueles povos.
As belíssimas ilustrações são de Denise Rochael. Os traços fortes e a predominância dos tons negros, amarelados e avermelhados nos remetem aos povos africanos.
Qual é a história contada em A trapaça da serpente?
Esse reconto popular africano torna evidente o poder do ofício do griot. É esse o nome dado aos sábios africanos, que recolhiam e repassavam histórias em rodas de conversa nos povoados por onde andavam.
Assim segue a tradição: ao pé do ouvido, de orelha a orelha, os contos e lendas são repassados, atravessando o tempo e o espaço. Em A trapaça da serpente, é Sandra Bittencourt quem assume o papel de griot.
O livro nasceu de um conto que a autora ouvia quando criança, adaptado para a forma escrita e para a realidade brasileira.
Por aqui, é comum usar a expressão “serpente em forma de gente” para falar de pessoas egoístas ou que têm prazer de praticar o mal. São aqueles que enganam os outros para poderem se satisfazer.
“Eu contava essa história. Eu falava, falava… mas parecia que ficava faltando alguma coisa: inserir sons, para que pudesse dar um brilho maior”, relembra a autora.
Bem, a história de A trapaça da serpente começa de uma forma que nós, brasileiros, estamos familiarizados: “No tempo do era uma vez…”
Enquanto varre a porta de casa, uma jovem tem um encontro inesperado. Uma Cobra precisa de ajuda para fugir de caçadores e pede para se esconder dentro do corpo da moça.
Será que a moça aceitou o pedido da Cobra? Afinal, ela é a Jovem de Bom Coração!
A resposta está nas páginas de A trapaça da serpente. Uma frase extraída do livro pode tanto solucionar como aumentar o mistério: “Aquilo que está escrito em um filete d’água nada no mundo poderá apagar.”
Qual a origem dos contos de trapaça?
Assim como o filete d’água formado pelas lágrimas da Jovem de Bom Coração, o fio das histórias não se rompe. Pelo contrário, ele se fortalece, une pessoas e se expande. Graças ao trabalho do griot, essas histórias não serão esquecidas.
Os contos de trapaça sempre foram bastante comuns entre os escravos africanos. Boa parte delas continha comentários sobre as desigualdades da existência humana.
No entanto, a abordagem era feita de forma sutil e indireta. Afinal, todos tinham receio de que essas histórias soassem como ataques diretos aos brancos.
Um conto de trapaça sempre tem um personagem amoral e esperto, que se aproveita da fraqueza do outro. Também é comum que o trapaceiro tenha o poder de falar várias línguas, remover obstáculos e oferecer oportunidades.
Conheça a escritora de A trapaça da serpente
Sandra Bittencourt é formadora de professores e educadores, especializada em Ensino Especial, Literatura Infantojuvenil e Arte Educação.
Há 25 anos na área educacional, atua como professora, coordenadora e assessora pedagógica. Recentemente, ela compartilhou algumas das melhores formas de encantar pequenos leitores no Concerto de delicadezas literárias.
Como contadora de histórias, trabalha a musicalidade das palavras, aliada aos sons do cotidiano. Ela acredita que a vibração da palavra tem o poder de sensibilizar o ouvido das pessoas, para que se sintam incentivadas a tudo.
A artista anda por cidades do Brasil com sua Trupe Maria Farinha, carregando livros, histórias e instrumentos musicais. Esses instrumentos incluem seu inseparável tambor, além de galões de água, colheres e caixinhas de fósforo.
Não perca a oportunidade de conversar com Sandra Bittencourt na Bienal Mineira do livro. A autora de A trapaça da serpente estará no stand da Lê no sábado, 21/5, das 10:30 às 12:30. Te encontro lá!
Seu espaço é muito bom! Que trabalho excelente. Ajudou-me a produzir atividades de fruição da literatura, principalmente valorizar as culturas mão europeias as quais são muito fortes na prática de ensino. Precisamos valorizar e divulgar as culturas de todos os povos.
Com certeza, Rosemeire! Todo cantinho do nosso planeta tem algo que podemos incorporar e melhorar nossas vidas, nossa forma de ver o mundo, nosso jeito de cativar as crianças.