Desde a infância, a vida de João Marcos foi cercada por quadrinhos e desenhos. Na verdade, a relação com a arte começou antes mesmo do seu nascimento. Como assim? Acompanhe a história de vida desse autor!
Enquanto ainda estava na barriga da mãe e ninguém sabia seu sexo, o pai teve a ideia de começar uma coleção de revistas em quadrinhos para o filho ou filha.
Então, ele foi comprando aos poucos revistas da Disney e da Turma da Mônica. “Quando eu nasci, tinha uma coleção de revistas em quadrinhos me esperando!”, conta João Marcos.
Além disso, sua mãe pintava camisas para crianças, e ele passava horas e horas acompanhando o trabalho. “Parece que até hoje eu consigo sentir o cheiro das tintas”, lembra.
Escola sem aula de Artes
Logo que aprendeu a ler, João Marcos começou a criar seus próprios personagens e revistas em quadrinhos. Ele usava lápis, caneta e folhas de papel dobradas ao meio.
Em sua escola não havia aula de Artes. Então, desenhava escondido, nas folhas finais dos seus cadernos e livros. Ele sempre teve dificuldade com Matemática, o que o fez passar três anos na mesma série.
Sua vida mudou definitivamente no dia em que ocorreu uma feira de profissões na escola. Enquanto os stands de medicina e engenharia estavam cheios, havia um vazio, que ele entrou para conhecer.
Lá, havia várias ilustrações de livros infantis e uma página original de uma revista em quadrinhos. Foi ali que lhe explicaram que aquela também era uma forma de arte. “Parece que veio uma luz, um raio”, conta.
Aos 14 anos, ele fazia ilustrações e charges para o jornal da cidade onde morava, Ipatinga. “Era uma coisa inacreditável: eu passava a tarde desenhando, e no final do mês eles ainda me pagavam!”
Preconceito com quadrinhos na Escola de Belas Artes
A dificuldade com a Matemática afastavam João Marcos cada vez mais do seu sonho. Ele estava quase desistindo dos estudos, como um todo, até que uma de suas professoras o orientou a mudar de escola.
Ela aconselhou que ele fosse estudar em um lugar que valorizasse a cultura e as artes. Foi o que João Marcos fez. Na verdade, a experiência foi tão boa que despertou nele o desejo de ser professor.
Então, quando finalmente saiu da escola, não teve dúvidas: foi para a Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), para realizar seu grande sonho.
No entanto, lá ele descobriu que os quadrinhos também sofriam preconceito e não eram vistos como uma forma de arte. Mesmo assim, ele se graduou e decidiu que faria mestrado na mesma faculdade.
Com isso, se tornou Mestre em Artes Visuais e provou que, sim, os quadrinhos têm muito valor. Sua pesquisa sobre o uso de quadrinhos na educação ganhou o Troféu HQ Mix como Melhor Dissertação de Mestrado.
Realização do sonho de João Marcos
João Marcos viajou para São Paulo para receber o Troféu HQ Mix. Ele quis aproveitar a viagem para conhecer a Maurício de Souza Produções.
“Durante a minha infância, as revistas do Maurício foram a minha janela para o mundo, que despertaram em mim o desejo de ser quadrinista”, conta.
Ele ficou encantado com o que viu, mas não conseguiu fazer o que mais queria: conhecer o próprio Maurício de Souza, que havia viajado naquele dia.
Um ano depois, ele voltou a São Paulo para dar uma palestra sobre sua dissertação de mestrado. Foi aí que ele tentou mais uma vez ir ao estúdio e ver se conseguia tirar uma foto com seu ídolo.
Ele não só conseguiu como ainda deu de presente uma revista que havia feito. Mais tarde naquele mesmo dia, seu telefone tocou. Era um convite para ser roteirista da Turma da Mônica.
“Eu fiquei nas nuvens. Estava sendo convidado para realizar um sonho de infância!”, lembra.
Mendelévio e Telúria, criações de João Marcos
Que revista era aquela que João Marcos entregou a Maurício de Souza? Eram histórias estreladas pelos seus personagens Mendelévio e Telúria.
Trata-se de um casal de irmãos com personalidades, gostos, manias, preferências e formas diferentes de ver o mundo. Mesmo assim, um não vive sem o outro. Ou seja, eles são iguais a tantos irmãos que vemos por aí.
As histórias surgiram inicialmente como webcomics, baseadas em memórias da infância de João Marcos. Mendelévio era baseado nele mesmo e Telúria era uma mistura de suas duas irmãs.
No início, as irmãs não gostavam das histórias, já que tudo o que acontecia em casa acabava aparecendo nos jornais. No entanto, os irmãos fizeram tanto sucesso que viraram livro algumas vezes.
Livros com os irmãos mais amados dos quadrinhos
Amarra meu cadarço? fala da vez em que Telúria tenta amarrar o cadarço do sapato do irmão, mas não consegue. Ela pede ajuda aos moradores da caixa de brinquedos, mas cada um não consegue por um motivo diferente.
Em Pra que tomar banho?, Mendelévio tem sempre uma desculpa para não ir para o banho… até que algo diferente acontece! Os dois livros formam a coleção Meu Primeiro Quadrinho, destinado a crianças de até 6 anos.
Os irmãos aparecem ainda em coletâneas com histórias sobre brincadeiras, passeios, diferenças, disputas, manias e saudades: O mundo Mendelévio e o planeta Telúria, Histórias tão pequenas de nós dois e Três é demais.
Todas elas foram finalistas do Troféu HQ Mix, aquele mesmo que João Marcos ganhou com a dissertação de mestrado.
Enquanto as histórias anteriores eram baseadas em suas memórias de infância, Três é demais é inspirado em seus filhos. Aliás, o livro recebeu o Selo Cátedra de Leitura Unesco. Abaixo, confira a entrevista com o autor.
Quadrinhos e… literatura de cordel?
João Marcos tem uma excelente parceria com Fabio Sombra, um dos maiores pesquisadores do país sobre a literatura de cordel. Nesses livros, o traço do seu desenho tem grande influência da xilogravura.
Mas a linguagem tradicional dos versos de cordel e o dinamismo e humor dos quadrinhos não têm nada a ver, certo? Errado!
Você pode conferir o resultado da mistura nos oito contos divertidos de Sete Histórias de Pescaria do Seu Vivinho. O livro foi Menção Honrosa no Universo HQ. Ah sim, o “sete” do título é uma referência à velha conta de mentiroso.
Em A pescaria magnética do Seu Vivinho, você conhecerá mais oito histórias mirabolantes do pescador mais mentiroso do mundo. No entanto, ele garante que todos os casos aconteceram, sim senhor!
João Marcos no YouTube e Instagram
O canal do YouTube Traça Traço surgiu da necessidade de solucionar um “problemão”: João Marcos estava com dificuldade de atender à demanda de tanta gente que lhe pedia para dar cursos de desenhos para crianças.
No canal, ele ensina como fazer desenhos a partir de letras, números e até rabiscos. O objetivo é trabalhar a percepção das crianças (e adultos) e mostrar que desenhar pode ser muito mais fácil do que se imagina.
Os vídeos fizeram tanto sucesso que foram fazer parte da programação da afiliada da TV Record de Governador Valadares.
No perfil do Instagram Escola de Passarinhos, você pode conferir tirinhas divertidas sobre o universo da educação.
Encontre João Marcos na Bienal Mineira do Livro
Talvez você esteja se perguntando agora: de onde surge inspiração para tantas histórias? O autor responde: “Onde tem criança, eu fico ligado ao que elas estão fazendo, o que elas estão falando.” Boa dica!
Vá à Bienal Mineira do Livro e visite o stand da Lê. João Marcos estará lá no sábado, 21/5, a partir de 17:30, e no domingo, 22/5, o dia inteiro.