A história da literatura japonesa abrange um período de quase dois milênios. Neste post, você verá uma breve linha do tempo, bem como as características dos principais tipos literários do Japão.
Além da estrutura narrativa, alguns temas são muito comuns na literatura japonesa. Normalmente, suas obras expressam gratidão às tradições e simpatia com a natureza.
Quase nada se sabe sobre a literatura do Japão anterior à introdução da escrita. Acompanhe como foi a evolução dessa cultura desde então.
Literatura japonesa clássica (séculos VIII – XII)
As obras japonesas documentadas mais antigas são do período Nara. As primeiras obras foram fortemente influenciadas pelo contato cultural com a China. Por isso, muitas delas foram escritas em chinês clássico.
As duas primeiras obras japonesas que conhecemos são Registro de assuntos antigos e As crônicas do Japão.
Essas são compilações de crônicas que fundiam mitologia com eventos históricos reais do país. Como você deve saber, essa mistura é popular até os dias de hoje.
No início, os nobres eram os únicos que escreviam e liam. As pessoas comuns não sabiam ler, além de serem pobres demais para comprar literatura. Por isso, os japoneses não produziam nada da literatura que consumiam.
O desenvolvimento de uma identidade literária japonesa
No período Heian, a cultura nacional se desenvolveu e, com isso, a literatura passou a ter um estilo próprio. Por isso, ela é tida como a era de ouro da cultura japonesa.
Um destaque vai para Conto do cortador de bambu, uma narrativa popular do século X. Ela é considerada a mais antiga prosa japonesa e um dos primeiros exemplos de ficção protociência.
O Man’yōshū é a compilação mais antiga de poemas japoneses. São mais de quatro mil poesias, de vários autores. O Conto de Genji é do início do século XI e é considerado o primeiro romance literário do mundo.
Outra obra importante desse período é o Kokin Wakashu. Trata-se de uma antologia de poesias concebida pelo imperador Uda e publicada por ordem do seu filho, Daigo.
Muitas mulheres começaram a ter um período de sucesso a partir dessa era. Um destaque vai para Notas de cabeceira, escrito pela dama da Corte Imperial Sei Shōnagon. A obra virou filme em 1996.
Literatura medieval e feudal (séculos XIII – XIX)
A partir daqui, algumas classes de guerreiros instruídos começaram a ler e criar literatura. O conto dos Heike representa o período de guerra civil no país. O livro conta uma história da luta entre clãs pelo controle da nação.
A popularização da literatura possibilitou o florescimento da dramaturgia, como o kabuki e os teatros de fantoches. No entanto, os escritos de ficção eram vistos como entretenimento sem valor pelas pessoas mais sérias.
A influência da literatura indiana ajudou a difundir o budismo. Foram os ideias dessa doutrina que deram o tom de seriedade às poesias. As formas literárias mais importantes também incluíam diários e ensaios.
Obras relevantes desse período incluem Relatos da minha cabana e Ensaios na ociosidade, ambos escritos por monges budistas.
As escritoras, que até então estava em alta, perderam espaço com o declínio do poder da Corte Imperial no século XIV.
O surgimento das formas tradicionais de poesia japonesa
No período Edo, houve uma escalada populacional, o que trouxe estabilidade e segurança. Além disso, a alfabetização atingiu mais de 90% da população.
Isso permitiu que muitos gêneros de arte, como dramaturgia e literatura fossem introduzidos. É dessa época, por exemplo, A grande onda de Kaganawa, uma das xilogravuras mais icônicas da história mundial.
Desde essa época, os poemas japoneses não se preocupam tanto com as rimas, mas sim com a expressão de temas e sentimentos.
Um dos principais estilos de poesia tradicional do Japão é o haicai. O poeta Matsuo Bashō é considerado um dos primeiros e maiores mestres nesse estilo.
Os tankas são poesias de 31 sílabas que costumam tratar de sentimentos, como amizade e amor.
Os haikus possuem ilustrações que apresentam a ideia das poesias. A essência desse gênero está no “corte”: uma palavra os frase para intermediar essas imagens.
Literatura japonesa moderna (1868 – 1945)
No início desse período, o jovem imperador Meiji percebeu que as outras nações estavam ganhando poder em relação ao Japão. Isso dizia respeito principalmente às armas, mas também incluía a educação.
Por isso, o imperador buscou uma mudança e permitiu que as influências ocidentais modernizassem o Japão. O crescente conhecimento dessa época veio da tradução de livros, revistas e jornais ocidentais.
A literatura japonesa por sua vez, não era conhecida fora do país. Isso só foi ocorrer com a reabertura dos portos para o resto do mundo.
A partir daí, as artes ocidentais e orientais passaram a se influenciar. Isso inclui a literatura iluminista, o realismo, o romantismo e o naturalismo. Até a atualidade, essa inspiração mútua permanece.
Na imprensa, a mudança mais notável foi a substituição da xilogravura pela prensagem e pela fotografia.
No entanto, os escritores desse período não dependiam muito das técnicas de escrita ocidentais, o que dificultou a tradução de muitas obras.
Isso só foi possível com a criação de uma estrutura gramatical moderna, popularizada por Natsume Soseki.
O reconhecimento tardio das escritoras japonesas
Boa parte dos escritores foram mais reconhecidos fora do Japão. Jun’ichirō Tanizaki foi o primeiro japonês a receber um Prêmio Nobel de literatura.
Durante o período Taisho e o início de Showa, a ocidentalização atingiu o ápice no Japão. As influências vieram do jazz, das revistas e dos filmes. Com isso, houve o surgimento das mogas, versão japonesa das melindrosas.
Foi nessa época que os trabalhos anteriores escritos por mulheres foram resgatados como os primeiros exemplos da linguagem literária japonesa.
Mesmo assim, elas ainda enfrentavam desafios como escritoras. Por isso, Shimizu Shikin procurou encorajar comparações positivas entre suas colegas e autoras do passado.
A sua esperança era a de que elas fossem vistas com mais respeito pela sociedade. Afinal, elas assumiam um papel público fora dos limites tradicionais das funções femininas domésticas.
Literatura japonesa do pós-guerra (1945 – atualidade)
Durante a Segunda Guerra Mundial, a expressão literária japonesa foi praticamente inexistente.
Por outro lado, a derrota na guerra influenciou bastante a literatura dessa época. Um destaque vai para o romance O sol poente, que conta sobre o retorno de um soldado de Manchukuo.
As traduções do japonês para outras línguas têm crescido bastante, em volume e em qualidade. Isso fez com que grande parte da literatura do Japão fosse disponibilizada para leitores de vários países.
Floresceram também no Japão urbano da década de 1980 a ficção popular, a não-ficção e a literatura infantil. Mais recentemente, os mangás (histórias em quadrinhos) se tornaram muito populares.
Muitos mangás tiveram adaptações para séries e filmes animados (animes), além de jogos e cinema em live-action. Assim, um grande feito desse gênero é encorajar a leitura em jovens do mundo inteiro.
A literatura japonesa no cenário atual
Hoje em dia, alguns dos maiores nomes da literatura japonesa são de mulheres. Elas são famosas por romper tradições literárias e abordar temas sociais, perda, isolamento e amor não romântico.
A literatura punk carrega a luta contra os sistemas sexistas, patriarcais e capitalistas, considerados óbvios por muito tempo no Japão.
Sayaka Murata, por exemplo, tem se tornado cada vez mais agressiva em seu ataque a essas tradições, sistemas e hierarquias.
Outra grande tendência tem sido a incorporação do gênero kafkiano. Muitos autores se inspiraram na cultura assalariada de Tóquio e nas rígidas estruturas sociais e familiares da vida japonesa contemporânea.
Atualmente, um dos autores de maior destaque é Haruki Murakami. Ele costuma escrever sobre homens que passam por deslocamento ou crise existencial. Suas narrativas são recheadas de surrealismo e fantasias urbanas.
No mundo inteiro, é possível encontrar autores e autoras que incorporaram e desenvolveram elementos da literatura japonesa, inclusive aqui no Brasil. Confira algumas sugestões que separamos para você!