O Modernismo brasileiro foi importantíssimo para o surgimento de uma literatura com identidade nacional. Na verdade, o movimento trouxe o pensamento autônomo para todas as manifestações artísticas.
Até o início do século XX, predominava o Parnasianismo, onde a arte era exaltada como algo da elite.
O Modernismo brasileiro importou da Europa a ideia de ruptura com as tradições, mas dando uma roupagem nacional e nacionalista. Entre suas características estão:
- Inovação
- Liberdade de criação
- Transgressão
- Rompimento com padrões do passado
- Experimentação de formas e técnicas
- Engajamento social
- Valorização dos elementos do cotidiano
- Divagação sobre a existência humana
- Reflexão sobre o progresso
Surgimento do Modernismo na Europa
No final do século XVIII, as revoluções Industrial e Francesa trouxeram mais do que mudanças econômicas e tecnológicas. Também mudaram as formas de enxergar a política, a cultura, a sociedade, o universo e a existência humana.
Cada vez mais, as pessoas comuns foram deixando de ser vistas como súditos, mas sim como indivíduos. Aos poucos, a noção de cidadania foi incorporada ao cotidiano europeu.
Foi nessa época que surgiram teorias influentes, como a da relatividade, de Einstein, e da psicanálise, de Freud. Certamente, a fotografia e o cinema também aceleraram a reinvenção da arte no início do século XIX.
A vanguarda europeia buscava romper com as escolas e tradições vigentes e trazia novas concepções sobre a produção artística. Entre os destaques estão os trabalhos do poeta Charles Baudelaire e do pintor Édouard Manet.
O expressionismo, o cubismo, o futurismo, o dadaísmo e o surrealismo desafiavam a burocracia e a moralidade burguesa. Esses estilos usavam novas técnicas e materiais, além de romperem as barreiras entre as formas de arte.
No Brasil, os artistas buscavam criar uma consciência criativa genuinamente nacional. Ou seja, algo que não imitasse produções europeias e falasse do Brasil para os brasileiros.
Movimento é importado para o Brasil
Nessa época, o Brasil era majoritariamente agrário e a política era pouco democrática. O poder se concentrava na região Sudeste e mantinha os interesses do Estado, das elites industriais e dos produtores de café e de leite.
Com a abolição do trabalho escravo, passou a existir um grande movimento imigratório, principalmente de italianos e japoneses. Sem direito ao trabalho assalariado, os negros seguiram marginalizados.
O fim da Primeira Guerra Mundial dificultou a importação de manufaturados para atender as necessidades do país. Isso impulsionou o desenvolvimento de um parque nacional, além de demandar a urbanização paulistana.
Foi nesse contexto que veio a Semana de Arte Moderna em São Paulo, entre 13 e 18 de fevereiro de 1922. O evento reuniu música, dança, poesia e artes plásticas, na intenção de criar uma linguagem própria.
Esse é considerado como um divisor de águas para o Modernismo no Brasil. Era clara a influência das tendências estéticas europeias, indo contra as correntes acadêmicas e propondo uma nova maneira de interpretar as artes.
A verdade é que o Modernismo brasileiro não iniciou aí. Ainda assim, o evento chamou a atenção dos meios artísticos de todo o país, além de apresentar novas estéticas e os principais nomes do movimento.
Primeira fase do Modernismo brasileiro (1922-1930)
A fase heroica ou Geração de 20 buscou a renovação cultural por meio da libertação dos velhos tabus da inteligência nacional. Os maiores representantes foram Manuel Bandeira, Oswald de Andrade e Mário de Andrade.
Essa fase uniu elementos das vanguardas europeias com os nacionais, porém, com uma grande diferença: ela não tinha o aspecto cosmopolita. Afinal, a intenção era consolidar a nossa cultura.
A estética literária internacional era usada para abordar os problemas e a cultura do Brasil. No entanto, não era o patriotismo que a regia, mas sim por um olhar consciente e que buscava a independência mental brasileira.
Houve o predomínio da fala coloquial característica do povo. O humor ganhou cada vez mais espaço, fazendo usos constantes da paródia e da ironia. Os poetas escreviam versos livres, cheios de tons confessionais e sintaxe rebelde.
O folclore nacional foi retomado. Boa parte dos artistas passaram a abordar o primitivismo e a vida pré-civilizatória, como a dos indígenas. Com isso, buscavam novos caminhos para refazer o Brasil.
O Manifesto Pau-Brasil defendeu a autonomia da arte nacional. Ele entendia que a poesia deveria ser natural, identitária, “caipira”.
Isso levou a outro manifesto, o Antropofágico. Nele, era determinado que era necessário mastigar todas as influências estrangeiras e incorporá-las de forma próspera.
Segunda fase do Modernismo brasileiro (1930-1945)
A Geração de 30 foi marcada pela poesia e pelo romance. Entre os expoentes estão: Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Rachel de Queiroz, José Lins do Rego, Jorge Amado, Graciliano Ramos e Érico Veríssimo.
Os artistas foram influenciados pelas ideias do existencialismo, da psicanálise e do marxismo. A cultura nacional já estava mais consolidada, portanto, não havia necessidade de ser tão combativa quanto antes.
O olhar se voltava para os problemas contemporâneos e para a compreensão do indivíduo frente às transformações do mundo. Essas mudanças eram consequência das desigualdades e das guerras.
Presente e futuro se encontravam, abordando temas da crise contemporânea: existência humana, vida cotidiana, miséria agrária, incompetência política e alienação do povo.
Na poesia, a oralidade, o cotidiano, as invenções rítmicas, os versos livres, a paródia e o humor continuaram. No entanto, ela era menos rebelde e mais reflexiva.
A metalinguagem e os elementos do simbolismo foram bastante explorados. Houve ainda a releitura de algumas formas antigas, como o soneto e o madrigal.
Na prosa, o romance realista ganhou outra roupagem, passando a compreender a miséria, a desigualdade e a opressão.
Os romances são intimistas, urbanos e regionalistas. Eles são engajados política e socialmente, além de mergulharem na memória e no psicológico dos personagens.
Terceira fase do Modernismo brasileiro (1945-1960)
Essa também é chamada de fase pós-moderna ou Geração de 45. Entre os escritores que ajudaram a construir a nossa identidade cultural estão Guimarães Rosa, Clarice Lispector e João Cabral de Melo Neto.
É clara a influência do cenário dessa época: o fim da Segunda Guerra Mundial, a criação da Organização das Nações Unidas (ONU) e o fim da Era Vargas.
Os destroços da guerra e o uso da tecnologia para destruição se refletiram na produção literária. Além disso, havia influencias do misticismo, divagações metafísicas e questionamentos existenciais.
Várias correntes literárias coexistiram e o teatro cresceu. Com isso, houve um desenvolvimento acelerado de uma tradição crítica literária nacional.
A poesia já não era tão anárquica. Foram retomadas as rimas, a métrica e a gramática tradicionais. Esse trabalho intelectual abriu espaço para o surgimento das produções de vanguarda concretistas e neoconcretistas.
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Em 1927, Mário de Andrade fez uma viagem pelas águas da Amazônia. A experiência influenciou toda sua obra posterior, e o Modernismo brasileiro como um todo.
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