Em 18 de maio, é celebrado o dia de Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. Não à toa, a data foi escolhida para o lançamento do livro O gato da árvore dos desejos.
No dia, houve uma live com o escritor Tadeu Sarmento. A mediação foi de Fabíola Farias, com apresentação de Clarisse Bruno. Abaixo, confira como foi a live.
O gato da árvore dos desejos e o abuso infantil
O livro O gato da árvore dos desejos representa um esforço para dar voz às crianças sobre as diferentes formas de abuso. No entanto, é preciso oferecer algo mais para atrair os pequenos para esses tópicos importantes.
Por isso, a obra também oferece um grande valor lúdico e de estímulo à imaginação. O escritor Tadeu Sarmento explica que tem plena consciência da responsabilidade de escrever sobre um tema tão delicado.
Ele acredita que as crianças aceitam facilmente os temas graves ou mais sérios. Para que isso ocorra, é necessário que esses assuntos sejam ditos de forma espontânea e honesta.
A ilustradora Silvana de Menezes diz que o tópico abordado no livro a interessa particularmente. Ela nota que um grande feito da obra foi tratar do tema de uma forma que “não ferisse a criança”:
“Hoje, felizmente, nós temos a possibilidade de poder discutir esses assuntos. E a forma como o Tadeu faz essa leitura no livro é de uma sensibilidade ‘quase feminina’.”
A história de O gato na árvore dos desejos
A narrativa começa com um gato de nome curioso: Pardal. Quando ainda era filhote, alguns cachorros o perseguiam e, na fuga, acabou subindo em uma árvore. Desde então, ficou traumatizado e nunca mais desceu.
Do alto, ele convive com as crianças do bairro, que o batizam de Pardal justamente por viver em cima dos galhos.
Um dia, ele conhece Raia, menina bonita que também sabe se equilibrar nos galhos e foge para as árvores sempre que quer fugir de alguma coisa. Pardal quer ajudar sua nova amiga a vencer seus traumas.
Para isso, é necessário que ele vença seu próprio medo e volte a descer da árvore. Nessa aventura, Raia e Pardal contam com o auxílio de um pássaro chamado Alma-de-gato (isso mesmo!) e várias outras aves.
Além do abuso infantil, o livro trata de amizade, amor e fraternidade. Tadeu Sarmento conta que sua inspiração para esse livro veio de uma notícia de jornal.
Assim como Pardal, o gato da vida real subiu em uma árvore para fugir dos cachorros e não desceu mais. Esse mesmo gato acabou sendo adotado pelas crianças do bairro.
Para enriquecer a narrativa, o escritor deixou a ilustradora Suzana de Menezes livre para criar em cima de seu texto:
“Antes de ser um amigo, eu sou um admirador do trabalho dela (Silvana) e acredito que ela é uma das grandes artistas e ilustradoras deste país. Trabalhar com quem você admira é muito mais fácil.”
A ilustradora, por sua vez, acredita que o colega é um dos maiores representantes da literatura contemporânea. Ela destaca a inteligência e o humor presentes em sua escrita:
“O Tadeu é uma máquina de fazer livros, e livros brilhantes. Não é à toa que ele é um colecionador de prêmios.”
Quem é Tadeu Sarmento?
Em tudo que escreve, seja para adultos ou crianças, o autor leva em consideração o universo infantil. Ele revela que a maior dificuldade em sua caminhada foi encontrar a voz certa para falar com as crianças.
Tadeu Sarmento conta que nunca quis que seu tom fosse professoral, didático ou esquemático. Ao mesmo tempo, sempre buscou um ideal de simplicidade e clareza nos textos.
Para isso, ele se insira nos autores que, para falar com crianças, não apenas preenchem o vazio, mas acendem o fogo. “Que fogo é esse? É o fogo da curiosidade e da inteligência”, conta.
No entanto, há seis anos, ele ainda não imaginava escrever para o público infantil. O incentivo veio da poeta Adriane Garcia, com quem o recifense vive atualmente, em Belo Horizonte.
Ao ler um romance do escritor dedicado ao público adulto, sua parceira percebeu um tipo de humor e imaginação que agradaria em cheio as crianças.
Uma das maiores alegrias na carreira do autor veio com o Prêmio Barco a Vapor, que recebeu pelo livro O cometa é um sol que não deu certo.
Com Um carro capota na lua, venceu o Prêmio Pernambuco de Literatura e o Prêmio Governo de Minas Gerais. Entre outras obras de destaque estão E se Deus fosse um de nós? e Associação Rober Walser para sósias anônimos.
Tadeu Sarmento conta que, quando um livro seu fica pronto, se sente satisfeito e, ao mesmo tempo, com uma ponta de saudade.
Afinal, durante os meses que levam um processo de criação, os personagens passam o dia com ele, povoando até mesmo os seus sonhos. “A única forma de curar essa saudade é começar logo a escrever outro”, diz.
Quem é Silvana de Menezes?
Quando criança, Silvana de Menezes quis ser várias coisas, mas sempre soube que o seu caminho seria o da arte. Ela só não sabia ainda se a sua especialidade seria a escrita, o desenho, o cinema ou a escultura.
“Todo o meu caminho na arte foi em busca da humanização”, conta. A artista entende que a prosa literária é uma ferramenta importante para fazer enxergar as coisas além da aparência: “A literatura vai na essência delas.”
Ela conta ainda que tem uma necessidade vital de fazer e produzir. Dentre todas as fontes de inspiração, Silvana revela que a maior delas é o leitor.
A artista acredita que o ilustrador precisa dominar algumas habilidades técnicas, mas o mais importante é “sonhar a palavra”.
Para ela, a responsabilidade pelo resultado de uma obra pertence 50% ao escritor e 50% ao ilustrador. Ela diz que o ilustrador que apenas repete o trabalho do escritor não acrescenta em nada.
Além de ilustrar, Silvana de Menezes trabalha no cinema, no teatro e já escreveu vários livros.
São mais de 30 títulos, inclusive, com traduções para o México, a Coreia do Sul e a China. Entre eles, Tão longe… tão perto, ganhador do prêmio Jabuti de melhor livro juvenil.
Se você se interessa por temas importantes, como é o caso do abuso infantil, precisa conhecer O gato da árvore dos desejos.