‘Texturaafro’ – para celebrar o Dia da Consciência Negra

Capa do livro Texturaafro.

Sábado, 20 de novembro, é Dia da Consciência Negra. O momento é oportuno para falarmos sobre Texturaafro, livro escrito por Adão Ventura, com imagens de Naíche Cardoso.

Atemporal, a obra foi publicada pela primeira vez em 1992 e aborda vários temas relacionados à consciência afro-brasileira: origem, escravidão, identidade, congado etc.

São poemas, ao mesmo tempo, fortes e líricos, em que as questões étnicas assumem tons de revolta e indignação. Com versos curtos e praticamente sem ornamentos e efeitos, a mensagem é simples, seca e direta.

Sem baixar a cabeça por um momento sequer, o autor fala com bravura e lucidez, mostrando sua consciência política e racial. A seguir, veja como as quatro partes de Texturaafro denunciam a opressão ao longo da história.

Quais são as quatro partes de Texturaafro?

O livro já abre com uma frase certeira de Manuel Bandeira: “Somos duplamente prisioneiros: de nós mesmos e do tempo em que vivemos.”

A incapacidade da sociedade de combater os elementos históricos de repressão e racismo é um assunto que permeia a obra. Por meio de seu contra-discurso, Adão Ventura busca a libertação daquilo que o tempo impôs.

A primeira parte trata da descendência e das raízes culturais que ligam os negros do Brasil. Mitos, convenções e estereótipos criam a ideia de democracia racial, para aliviar a consciência branca e acalmar a insurreição negra.

Em seguida, é feita a exaltação de personagens que simbolizam a resistência e o orgulho negro. É aí que o autor questiona os valores colonialistas em que se baseiam a cultura e o discurso dominantes.

Chico Rei e Isidoro, figuras presentes na memória popular, mas excluídos da história oficial, são mostrados como heróis.

Depois, há a união entre passado e presente. A favela é vista como a nova senzala. Os meninos de rua são comparados a Zumbi. Por mais que tentem, dificilmente conseguem escapar do destino e das condições precárias de vida.

Por fim, as vidas de antepassados negros se unem a um passado recente. Os próprios pais e avós de Adão Ventura tomam forma de poesia, e o autor se lembra da infância, quando já sentia na pele o peso da discriminação.

O negro ainda é posto constantemente em situação de servidão. Assim como começou, o livrofecha de forma impactante: “A história do negro é um traço num abraço de ferro e fogo.”

Depoimentos sobre Adão Ventura e o livro Texturaafro

Nascido em 1939, no Vale do Jequitinhonha, Adão Ventura se tornou um dos maiores poetas negros brasileiros do século XX.

Seus poemas apareceram em diversas antologias nacionais e internacionais, traduzidos para inglês, espanhol, alemão e húngaro. O autor faleceu em 2004. Confira alguns testemunhos de outros grandes autores sobre sua obra.

“A poesia de Adão é cravejada em ferros da nossa História. É forte e descarnada, como convém às suas amarras e vínculos.” – Libério Neves

“Adão Ventura continua praticando um poema de textura seca, implícita, sem derramamentos. Seu estilo tem provocado seguidores. Sua preocupação formal e de raízes negras fica sendo seu maior trunfo.” – Duílio Gomes

“O poeta assume a biografia soterrada por montanhas de preconceitos. Daí, talvez a força com que brota e se manifesta. Adão Ventura faz o lirismo da revolta, um Cruz e Souza às avessas.” – Fábio Lucas

“Adão Ventura tece, na fibra de aço da sua raça, a tessitura forte da poesia diamantina, impregnada do ferro e do ouro que corre nas entranhas dos Geraes para o Universo do Mundo.” – Eliana Mourão

Conheça outros livros pertinentes ao Dia da Consciência Negra

Obras infantojuvenis podem servir de ferramenta para tratar questões étnicas entre as crianças. Do Grupo Lê, livros como Honorina, A cor da vida, Nino e Bela e Bééé podem ajudar nesse sentido.

Você tem interesse em adotar Texturaafro, algum dos títulos que acabei de mencionar ou outro livro? Entre em contato! Juntos, selecionaremos os melhores títulos para trabalhar temas importantes na escola!