“Mineral: ser bruto da vida, ser vida na forma esculpida.” Esses são os primeiros versos de Libério Neves em Mineragem. O livro reúne 29 poemas, extraídos de uma escavação profunda, feita com muita pesquisa.
Na obra, não faltam críticas políticas, históricas, ecológicas e culturais. Sem ser excessivamente didática, ela funciona como uma aula diferente de História ou Ciências. A perspectiva de Libério Neves é vigorosa e lúcida.
Em Mineragem, os minerais são polidos com musicalidade e abundância de sentidos. Além disso, camadas finas de lirismo, jogos vocabulares e alusões servem de revestimento.
É dessa forma que o autor demonstra como é possível ver poesia em elementos que passam despercebidas pela maioria das pessoas. São coisas que, normalmente, só usamos e, muitas vezes, descartamos.
Quais minerais inspiraram o livro?
Claro, Mineragem fala dos elementos nobres e de beleza evidente, como ouro, prata, pérola, esmeralda, cristal, rubi e diamante. Ainda assim, há homenagens aos mais abundantes, como areia, terra e água.
Até mesmo os que fazem parte do nosso dia a dia recebem reconhecimento por seu valor cultural e beleza oculta. Entre eles, isopor, plástico, alumínio, cimento, vidro, sal, cal, ferro, chumbo e aço.
Mesmo com sua primeira publicação feita em 2006, a obra já abordava questões que só ganharam proporção maior recentemente. Por exemplo, o uso de sacolas plásticas.
Cobalto, bronze e chumbo, por sua vez, podem ser explorados para o bem e para o mau. Abaixo, confira o diálogo entre mão e lápis, o que foi escrito e a consciência do escritor, no poema Grafita.
Diz o lápis à mão:
Você comanda,
eu vou e relato.
Escreva dor,
assim eu acato.
Escreva amor,
então eu abono.
Você decide,
não sou o dono.
Diz a mão ao lápis:
Cometi um lapso
em minha cabeça;
apague a dor
e o mal esqueça.
Nas últimas páginas do livro, há informações técnicas sobre os todos os minerais citados. Essa segunda história só confirma a riqueza inerente a cada um deles.
Quem são os autores de Mineragem?
Nascido em Buriti Alegre (GO), Libério Neves (1934-2019) morou em algumas cidades de Minas Gerais e passou a maior parte da vida em Belo Horizonte. Por isso, pode-se dizer que ele é uma mistura de mineiro e goiano.
Desde sua primeira publicação, (Pedra solidão, de 1965), o cuidado com as palavras esteve presente, mesmo em suas prosas. É como diz o poeta, artista plástico e crítico literário Mário Alex Rosa:
“Só os grandes artistas sabem nos devolver com exatidão aquilo que talvez não chame tanto nossa atenção. Mineragem é a prova de que precisamos reeducar nossa sensibilidade.”
O depoimento a seguir faz parte do prefácio do livro, também escrito por Mário Alex Rosa:
“Aos verdadeiros poetas cabe minerar as palavras, os seus sentidos, os sons, o ritmo, a medida, a visualidade, enfim extrair a particularidade de cada uma que for compor seus poemas. Não importa se é um monossílabo ou uma proparoxítona, um fonema ou um sinal de pontuação. O poeta é um historiador das palavras.”
A leitura é intensificada pelo trabalho visual feito por Silvana de Menezes. Suas ilustrações e colagens estabelecem um diálogo com o texto. Esse diálogo é, ao mesmo tempo, reflexivo e sonhador.
Mineragem, joia rara em forma de poesia
A obra faz parte do Acervo Básico Poesia, da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ). Além disso, foi selecionada para o Catálogo da Feira de Bolonha, a mais importante do mundo nesse segmento.
Essa joia rara também pode fazer parte da biblioteca da sua escola, ser trabalhada em sala de aula ou ainda integrar o seu acervo em casa.
Além de Mineragem, temos vários títulos valorizam a poesia que pode ser extraída de elementos do cotidiano. Por isso, entre em contato! Juntos, vamos selecionar os melhores livros.