A África e, consequentemente, as africanidades, têm sido assuntos cada vez mais procurados pelos leitores. Por africanidades, entende-se: elementos da cultura brasileira com origem africana.
Claro, a consciência sobre essa ancestralidade atrai, na maioria das vezes, os herdeiros culturais. Mesmo assim, o interesse também tem crescido entre as pessoas de outras etnias.
Com isso, a quantidade de obras que trazem elementos da cultura africana tem aumentado. Isso inclui a literatura direcionada para crianças e jovens. Abaixo, veja algumas boas razões para levar esses livros para a escola ou para casa.
1. Abrem caminho para a diversidade literária
A Lei 10.639/03 obrigou a ampliação do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira nas escolas. Essa foi forma de reagir à invisibilidade da população negra e sua exclusão dos sistemas educacionais.
Com a alteração na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), vários materiais didáticos e paradidáticos precisaram ser revistos e adaptados. Alguns foram completamente reformulados.
A nova demanda fez com que vários autores começassem a se inserir na literatura sobre temas étnico-raciais. Consequentemente, aumentou também o número de livros infantis ressaltando a beleza da cultura africana.
2. Estabelecem semelhanças com as brasilidades
As culturas negra, africana e brasileira têm muitos pontos de interseção. Afinal, boa parte dos nossos costumes vem de uma história trazida pelos escravos africanos, que eram maioria durante a colonização portuguesa.
Contudo, a distância espacial e temporal fez com que muitos aspectos fossem ressignificados até chegarem ao Brasil da atualidade. Ainda neste post, você verá algumas dessas diferenças de nuances.
A inserção das africanidades na literatura é uma forma de aumentar o respeito entre as pessoas e combater o preconceito étnico-racial. Nossa sociedade já deu várias demonstrações do quanto ainda tem que avançar nesse sentido.
3. Fortalecem a noção de identidade
A infância é uma fase fortemente caracterizada pelas descobertas e pela construção da identidade. Pensando nisso, a literatura é um ótimo veículo para trazer novas visões de mundo.
As crianças se identificam facilmente com os personagens e histórias. Com isso, os livros ajudam no desenvolvimento do autoconhecimento, da autoestima, da dignidade e da sensação de pertencimento.
Ao se conscientizarem sobre as próprias raízes, as crianças negras ganham força para driblarem o histórico de discriminação. Vale lembrar que os aspectos raciais também incluem os traços do rosto, tipos de cabelo e formato dos olhos.
4. Não deixam tradições caírem no esquecimento
Mesmo que boa parte das pessoas tenha pouco conhecimento sobre isso, são muitas as histórias infantis que se passam na África. Algumas são transcrições de contos orais, que trazem ensinamentos que fazem parte da tradição.
Além das histórias passadas em território africano, há aquelas que são ambientadas no Brasil, mas possuem elementos culturais da África. Tudo isso contribui para a solidificação das africanidades.
O reconhecimento dessas tradições não pode se perder em meio às distrações da modernidade. Assim, o resgate desse patrimônio é importante para que ele passe a ser ou continue sendo sempre motivo de muito orgulho.
5. Relembram as histórias de pessoas do passado
Durante a colonização, os portugueses queriam impor a identidade europeia. Por isso, reprimiam as manifestações culturais vindas de outros povos. O pensamento partia da crença de que existem raças superiores e inferiores.
Foi esse critério que serviu, inclusive, como justificativa para a escravização e a discriminação racial. A negação ao letramento e o acesso à escola dificultou o registro de boa parte das histórias dos negros no Brasil.
Essa exclusão é sentida até hoje, inclusive nos livros para crianças. A literatura infantojuvenil é uma forma de manter viva a lembrança sobre essas pessoas que teriam suas histórias esquecidas.
6. Promovem o protagonismo da África
O continente africano é o berço de todas as civilizações. Pensando nisso, não é de se admirar que as africanidades estejam presentes em sociedades e culturas de todos os cantos do mundo.
Os livros infantojuvenis são um ótimo meio para que as crianças conheçam as riquezas da África. A verdade é que muitos valores são comuns aos do ocidente. Porém, as lógicas costumam ser bem diferentes.
A nova leva de livros considera perspectivas sociais, históricas e linguísticas que antes eram pouco exploradas. Além disso, é cada vez maior a frequência de protagonistas negros.
7. Desfazem estereótipos
Em muitos livros, a população negra é interpretada sob o olhar de autores brancos. Com isso, o retrato costuma ser carente de autenticidade. Frequentemente, a visão é deturpada.
Ao conhecer a multiplicidade da cultura, é preciso ter o cuidado de não acabar reforçando estereótipos. A representatividade dá à África e aos personagens uma caracterização menos caricata, tanto visualmente como verbalmente.
Os pontos de vista de autores negros proporcionam uma experiência de leitura mais genuína. Eles desfazem a imagem do continente como uma grande área deserta em que os leões e elefantes têm mais espaço que os humanos.
8. Mostram a força feminina
Na cultura africana, a mulher é fonte da vida. As mais velhas também são vistas como sábias. Com elas, as mais novas se conscientizam sobre o mundo, têm maior noção de identidade e aprendem a trilhar os próprios caminhos.
São as mulheres que orientam os demais sobre as formas para se desenvolverem enquanto indivíduos críticos e afetivos. Nas famílias, elas são o fio condutor da sabedoria e possuem um poder transformador.
Essa visão poderosa da figura da mulher é refletida nas famílias brasileiras. Por aqui, muitas criam os filhos sozinhas. Há ainda as avós que assumem o papel de mães.
9. Evidenciam a beleza dos cabelos crespos
Desde quando são meninas, os cabelos e as formas de manipulá-los são importantes para mulheres do mundo inteiro. Na cultura africana, eles têm peso maior, já que os cabelos estão ligados à força vital das pessoas.
Há algum tempo, as mulheres costumavam alisar os fios para se adequarem ao padrão branco de beleza. Cada vez mais, temos visto a química sendo deixada de lado e o acolhimento das raízes crespas, em nome da identidade.
Assim, o tamanho, corte, penteado, cor também assume um caráter político, de empoderamento e de resistência. Afinal, como já dissemos, o padrão europeu ainda persiste na sociedade.
10. Convidam ao debate sobre temas relevantes
A escola é o cenário ideal para trabalhar as transformações que queremos em nossa sociedade. A simbologia presente na literatura abre oportunidades para a discussão sobre a construção de uma sociedade mais justa e diversa.
O ideal é que as crianças assimilem as mensagens e desconstruam velhos conceitos sem se darem conta disso. Ainda assim, para que essas obras sejam realmente difundidas, é preciso que o valor delas vá além da funcionalidade.
Um bom livro infantil deve levar em conta os critérios lúdicos e artísticos. Adotar uma obra sem esse olhar crítico pode acabar reforçando a aversão à qualquer livro em que as africanidades tenham papel de destaque.
Que as africanidades continuem ganhando força na literatura!
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