Mesmo as histórias mais sérias precisam de uma situação embaraçosa aqui, um diálogo absurdo ali… O alívio cômico é aquele elemento de comédia inserido na narrativa para dar um clima mais leve.
Em O chiste e sua relação com o inconsciente, Freud define o cômico como uma “válvula de escape”, um alívio da tensão.
No livro Formas simples, André Jolles diz que isso ocorre com a transposição, a capacidade de inverter sentidos e desmontar a ética, a lógica e a linguagem.
Engana-se se você pensa que o alívio cômico surgiu nos filmes de ação, seriados, novelas e animes modernos. A verdade é que é muito mais antigo, e até mesmo Shakespeare já usava e abusava desse recurso narrativo.
Qual é a importância do alívio cômico para uma boa história?
Bem, a nossa vida no mundo real tem um pouquinho de tudo: drama, romance, momentos de tensão… e uma boa dose de comédia. Pensando nisso, para mergulharmos em uma história é bom que ela reproduza esses sentimentos.
Um enredo que mantém o mesmo clima o tempo todo facilmente se torna cansativo. O excesso de momentos estressantes, dramáticos ou de suspense tornam a narrativa carregada, e quem sente esse peso somos nós, leitores.
Para nos manter engajados, pode ser preciso quebrar o ritmo da narrativa e alternar os momentos de tensão. Então, o alívio cômico está ali para dar equilíbrio e permitir que a gente “respire”.
Muitas vezes, para a química funcionar perfeitamente entre uma dupla ou grupo de protagonistas, é preciso um personagem para fazer contraponto. Não é raro que ele acabe se tornando o mais carismático e memorável.
Além disso, o uso desse recurso narrativo torna uma obra mais atraente para um público maior. Afinal, o que muitos buscam ao ler ou assistir alguma coisa é o entretenimento. Sobretudo, as crianças.
De que formas o alívio cômico pode aparecer na narrativa?
Algumas histórias são centradas em personagens que descobrem algum tipo de habilidade. Assim, o início da trama pode conter momentos atrapalhados enquanto o protagonista aprende a lidar e a dosar esse poder.
Às vezes, o personagem é daqueles que, mesmo em momentos críticos, mostra tranquilidade suficiente para falar alguma gracinha. Pode ser também que seja inocente demais ou não enxergue a real gravidade da situação.
A verdade é que, quase sempre que falamos de alívio cômico, estamos nos referindo a alguém que é sempre engraçado. Ele aparece ao longo de toda a história e sua personalidade se destaca dos demais.
Pode ser que esse amigo ou inimigo do protagonista seja um tanto quanto estabanado. Ou então, está sempre passado por situações ou fazendo observações que seriam estranhas com um personagem mais sério.
Em algumas obras, há duplas ou núcleos de personagens que vivem em cenários que sempre rendem diálogos absurdos.
Que cuidados o escritor precisa ter?
Para escrever bem, é importante conhecer as possibilidades da literatura. No entanto, é fundamental saber que não existe fórmula mágica.
O escritor precisa ter bom senso, saber usar o alívio cômico no momento certo do enredo, e na medida adequada. O exagero causa o efeito contrário, tornando esse recurso irritante.
Além disso, um personagem memorável, precisa ter nuances. Então, se quem o criou não desenvolver bem sua personalidade, ele acaba aparecendo como unidimensional e dispensável.
E você, já tinha parado para pensar no valor do alívio cômico para uma boa história? Se quiser conferir mais conteúdos sobre os detalhes e a riqueza do universo literário, conheça o canal do Grupo Lê no YouTube!