Todos os dias, chegam às prateleiras livros de todos os gêneros, temas e estilos. Às vezes, fica difícil decidir o que ler ou qual dar de presente, não é mesmo? Bem, a crítica literária está aí para ajudar…
A palavra “crítica” vem do grego “krinein”, que significa entender, examinar, estudar. O termo também é usado para separar e distinguir, escolher, decidir, com o sentido de que não há pré-julgamentos.
Estamos falando da avaliação sobre a forma como as escolhas do autor funcionam dentro da proposta de uma obra. Além disso, é traçado um paralelo de como o livro analisado se relaciona com o nosso mundo.
Para que serve a crítica literária?
Antes de tudo, é importante deixar claro: a crítica literária não existe simplesmente para falar se um livro é bom ou ruim. Muito menos para “detonar” um trabalho ou constranger um autor.
Pelo contrário, ela desempenha alguns papéis bem nobres. Um deles é o da divulgação da literatura em si. Outro é o de curadoria, o estímulo para que as pessoas leiam o que há de melhor.
O crítico literário aponta detalhes e elementos que enriquecem a experiência de leitura. Com sua bagagem, ele oferece interpretações que passariam despercebidas, ou seja, dificilmente seriam valorizadas pelo leitor casual.
Então, podemos dizer que a atividade serve para tornar públicas as características que merecem destaque em uma obra. Com isso, aguçar ou então frear a expectativa e a curiosidade do leitor.
O que é necessário para fazer a crítica literária?
A leitura feita por alguém que analisa é diferente da casual, já que inclui a procura pelos aspectos que sobressaem. Para isso, é preciso entender o público para o qual a obra é destinada.
Também é importante saber sobre o contexto e o processo de produção do livro: o perfil da editora, inclusive, conhecer outros títulos publicados por ela; quem é o autor, como são suas outras obras.
Aliás, esse é um dos motivos por que muitos críticos também são escritores. Além da habilidade de transmitir o amor pela literatura, eles estão familiarizados com o processo criativo e falam com conhecimento de causa.
De qualquer forma, quem avalia deve ter bagagem sobre os aspectos que serão analisados. Isso significa ser capaz de comparar com outras obras em que esses elementos aparecem de formas semelhantes e/ou diferentes.
Na verdade, a noção precisa ir além da literatura. Música, cinema, história, geografia… é importante ter um bom conhecimento sobre tudo isso. Quanto mais amplo for esse repertório, mais rica será a crítica literária.
Conheça 10 critérios da crítica literária
Vale lembrar que não existe “receita de bolo”. Por exemplo, há aqueles que se baseiam em critérios subjetivos, como as próprias sensações e os pensamentos despertados pela leitura.
Por outro lado, o crítico literário pode se fundamentar em teorias e elementos técnicos. É o caso daqueles que definem ou ajudam a decidir os ganhadores de premiações.
Veja a seguir alguns quesitos que, frequentemente, são levados em conta em processos de avaliação, de forma consciente ou não.
1. Argumento
Fidelidade àquilo que livro propõe. As escolhas do autor devem buscar causar o efeito pretendido, além de levar sempre em conta quem é o público-alvo.
2. Coerência
Sustentação da lógica: das personalidades dos personagens, as tensões entre eles, o tipo de linguagem, o tempo e o espaço em que a história se passa.
3. Enredo
Composição da trama principal e das secundárias. Como as ideias são apresentadas e como os elementos que constroem a narrativa se conectam.
4. Estilo
Forma como as figuras de linguagem são aplicadas, bem como a moderação no uso. Entre elas, as metáforas, as sinestesias, as analogias e as hipérboles.
5. Estrutura
Organização dos capítulos e como os personagens são progressivamente construídos. Também inclui a sequência em que os fatos são revelados.
6. Identificação
Personagens que passam por situações ou conflitos internos semelhantes aos que o leitor já vivenciou ou viu de perto. Isso torna a história mais imersiva.
7. Imagens
Beleza e originalidade das ilustrações e do projeto gráfico. Muitas vezes, é a primeira coisa a chamar a atenção. É essencial que converse com o texto.
8. Linguística
Adequação aos contextos tanto temporal como de lugar. Os modos de falar e pensar também precisam estar fiéis às personalidades de cada personagem.
9. Personagens
Devem ser descritos com nuances, para que tenham profundidade. Bem-construídos, suas qualidades e defeitos os humaniza e os aproxima do leitor.
10. Temas
Os assuntos abordados devem ter relevância, seja para a nossa sociedade ou para o contexto da publicação. Com isso, provocar pensamentos e reflexões.
E por que há tanta crítica literária negativa?
Os cadernos de cultura dos jornais e revistas não são como os blogs e perfis particulares do Instagram e do YouTube.
Isso quer dizer que eles podem até editar o texto para manter um tom elegante, mas não é correto escolher só o que gostam para publicar. Também não pode haver conflitos de interesses.
Além de serem imparciais, seus argumentos devem ser fundamentados. Por isso, é de se desconfiar tanto do crítico literário que só coloca defeitos quanto aquele que acha tudo maravilhoso.
E, verdade seja dita, toda propaganda é boa propaganda. Uma nota negativa faz com que pessoas conheçam um livro que, de outra forma, nem saberiam que existe.
Às vezes, as palavras mais duras são direcionadas justamente aos aspectos mais atrativos para determinado leitor.
Afinal, cada pessoa é única. Cada uma tem um temperamento e uma bagagem. Assim, cada uma terá uma reação particular em relação à leitura. O que fez uma não gostar de um livro pode ser o que faz a outra amá-lo.
Claro, também há também aqueles curiosos que vão atrás de um livro para saber o que há de tão controverso nele. Não é raro que acabem se surpreendendo.
E então, ficou mais claro o papel da crítica literária?
Além da crítica literária, você quer saber mais dos elementos que compõem o antes, o durante e o depois no universo dos livros? Então, convido a conhecer os conteúdos especiais de cada um dos canais on-line do Grupo Lê.