A vontade de ver o texto pronto logo, “ficar livre do problema”, pode fazer o autor publicar algo com um cuidado menor do que merece.
No entanto, ser poeta não se resume a saber rimar. Afinal, vivemos em tempos em que a inteligência artificial consegue criar uma poesia original, coesa e cheia de rimas em apenas alguns segundos.
O ser humano precisa ser diferente disso, dar um carinho especial àquele pedacinho da alma que decidiu expor ao mundo.
Erros ao fazer poesia são parte do processo
Você pode até argumentar que, nas artes, não existe isso de “certo” e “errado”. Que na poesia o teor dos versos sempre será o mais importante. E é verdade!
A literatura permite certas liberdades linguísticas? Claro que sim! É bom que a escrita traga espontaneidade? Também!
A chamada “licença poética” é justamente essa subversão da norma culta para priorizar o uso criativo. No entanto, romper com regras gramaticais, sintáticas e semânticas envolve, primeiramente, entendê-las bem.
Dominar as linguagens e os estilos faz com que as ideias a fluam mais naturalmente. Licença poética é algo que diz respeito a escolhas estilísticas conscientes, não a escrever mal por falta de conhecimento.
Como artista, o poeta não deve se acomodar com os elogios nem desistir por causa das críticas. E se você está aqui, é porque quer escrever cada vez melhor, e isso é ótimo! Vamos às dicas.
1. Fazer rimas enganosas
“De onde tirei essa ideia?
Que coisa mais feia!
Por mais que eu corra
Nunca irei à forra”
Como foi dito lá no início e você bem sabe, a língua portuguesa é cheia das complexidades. Para complicar mais, há várias exceções para as regras.
Um exemplo são os trechos de palavras que, embora sejam escritos da mesma forma, têm sonoridades diferentes. Se um som for mais aberto e o outro fechado, um for tônico e o outro átono, não estamos falando, então, de rimas.
2. Tentar rimar singular e plural
“Abra o livro
Abracadabra!
Os pequenos e os crescidos
Se encantarão com as palavras”
Esse é um caso bem semelhante ao do tópico anterior. Mas ele ocorre com tanta frequência que merece aqui o nosso destaque.
Ora, se uma palavra termina com “s” e a outra não, não é, exatamente, uma rima. Lembre-se de que dá para usar uma palavra no singular para generalizar algo que você quer que tenha sentido de plural. Essa é uma boa saída!
3. Usar apenas linguagem literal
“Gosto muito do cabelo castanho dela
Desde a primeira vez que eu a vi
Já a achei muito bonita
Bonita e inteligente”
Bem, já que falamos das liberdades que a poesia permite, saiba que você não precisa ser sempre literal em seus versos. Uma verdade pode ser estendida e ganhar ainda mais significado por meio de figuras de linguagem.
Calma, isso não significa que você precisa exagerar na sua angústia, sua paixão, seus traumas. É importante ter sinceridade nos seus sentimentos e emoções.
4. Tropeçar na métrica
“A sua faca que quase me faz um corte
E o vento que também corta
Só não me levam à morte
Por sorte”
A métrica e as rimas dão ritmo, musicalidade ao texto. Se forem respeitadas ora sim, ora não, têm o efeito enfraquecido ou até perdem a razão de existir.
Versos organizados em tamanhos fixos precisam obedecer a quantidade de sílabas para cada um, sem distorcer essa regra. Sim, isso significa ter que “quebrar a cabeça” para encaixar suas frases e ideias em estruturas fechadas.
5. Inverter a ordem normal da oração
“Volte para o seu lar
Porque quero com você ficar
Não é por maldade
De você sinto saudade”
Claro, esse artifício facilita a sua vida na hora de fazer uma rima, mas é uma saída rasa e, ainda por cima, soa forçado. As pessoas não falam desse jeito e não é bonito tampouco “poético” escrever assim.
O melhor mesmo é empenhar-se um pouquinho para criar uma rima que encaixe e soe natural. Vale ainda lembrar não é obrigatório que uma poesia rime.
6. Achar que fazer poesia é “falar difícil”
“És o astro que irradia minha existência
Teu esplendor habita o firmamento
E brilhas celestialmente com fulgor
Em um manto que resplandece”
Ainda tem muita gente que acha que poesia precisa de uma linguagem rebuscada. A verdade é que temos os poetas clássicos como referência e essa admiração, muitas vezes, nos leva a querer imitar o estilo deles.
Porém, não é autêntico usar palavras que não fazem parte do seu vocabulário. Esse afastamento da linguagem do dia a dia dificulta sua identificação com o leitor.
7. Pensar em metáforas pouco originais
“Estava na escuridão
Mas ganhei asas
Um novo dia vai raiar
E minha vida vai florescer”
Se você quer ver seus textos publicados, terá muita frustração se só oferecer às editoras poemas iguais aos que elas já têm aos montes em seus catálogos.
Por isso, não se apoie em clichês, nem nos clássicos nem nos que estão na moda. Então, fuja de metáforas com estações do ano, partes do dia, o universo animal e da botânica para falar de solidão, coragem, alegria, medo e liberdade.
8. Ter apenas rimas do tipo ABAB
“Sigo sempre andando a pé
Essa é a minha jornada”
Mas não perco a minha fé
Contemplando essa estrada”
As rimas alternadas são as mais comuns, principalmente nas músicas. Além disso, a métrica igual em todos os versos facilmente cria um ritmo.
No entanto, estrofes podem ter várias estruturas com musicalidades interessantes: monóstico, dístico, terceto, e por aí vai. Há ainda as rimas emparelhadas (AABB) e as interpoladas ou opostas (ABBA).
9. Rimar apenas verbos
“Não quero mais trabalhar
Quero apenas descansar
E as músicas que eu cantar
Todo mundo vai escutar”
Rimar verbos (“ar”, “ão”, “er”) é bem mais fácil, e a verdade é que não há problema algum em ter versos como os do exemplo acima.
No entanto, usar apenas essa saída repetidas vezes empobrece o seu texto, além de evidenciar uma falta de vocabulário. O mesmo vale para as rimas fáceis só com aumentativos (“ão”) ou diminutivos (“inho”).
10. Explicar metáforas
“Minha vida é um mar
Às vezes, revolto
Às vezes, calmo
As pessoas são os peixes que o colorem”
Acredite na força da imaginação do seu leitor e na identificação dele com você. Deixe que as imagens e cenas falem por si, sem descrevê-las minuciosamente.
Por isso, pense bem em figuras, ideias ou situações que, sozinhas, simbolizem aquilo que quer falar. Essa é uma maneira eficaz de compartilhar os seus sentimentos e sensações, mais do que a descrição deles.
11. Abusar da linguagem figurada
“O perfume é melodia
O sol me beija como flor
Os rios de prata em minhas veias
Borboleteiam em minhas montanhas”
A metáfora, o simbolismo e as demais figuras de linguagem levam o leitor a sentir e entender o verso dentro do conjunto e da intenção da poesia.
Porém, se em cada verso há uma figura linguagem diferente, o poema se torna excessivamente obscuro. Pode chegar a um ponto em que a sua ideia se perde, afastando não só a atenção, mas também o interesse do leitor.
12. Misturar “te” e “você”
“Tenho algo importante para dizer a você
Quer que eu te diga?
Embora você não acredite
Tu és a mais bela que conheci”
Escolha qual das duas formas vai usar. Embora as pessoas façam isso corriqueiramente, a mistura está inadequada.
“Te amo”, “a ti” e “tu és” estão na segunda pessoa. Mesmo que em nossa cabeça essa não seja a ideia, “você” concorda com a terceira. Ou seja, deve ter o mesmo tratamento que “ele”, “ela” e “isso”.
E você, comete estes erros ao fazer poesia?
Espero que as dicas acima tenham sido úteis para que você evite esses erros ao fazer poesia e a melhorar a sua escrita. Para mais conteúdos sobre o rico universo literário, conheça o que cada uma das nossas redes sociais oferece!
Considero essas normas textuais formais de algum bom senso, mas de uma posição de visão regulares de estágio adolescente demais. Está ausente um preparo criativo poético coerente artístico. São axiomas gramaticais dedicadas as pessoas preguiçosas de interesse de expandir o espírito de poeta, que exige uma percepção mais evolutiva da alma primitiva do ser humano.
Oi, Hélder. É sempre bom encontrar pessoas interessadas nos debates que propomos em nossos canais on-line e físicos. Excelente contribuição!
Muito bem gostei da explicação.
Espero que consiga colocar as dicas em prática. Depois, divida uma poesia sua aí com a gente!