Sabia que hoje, 20 de março, é Dia do Contador de Histórias? A data é oportuna para que você conheça mais sobre aquele que, com música, dança e muito conhecimento, é porta-voz da rica cultura africana: o griot.
Pronuncia-se “griô” e, aliás, também pode ser escrito desse jeitinho aportuguesado. “Griotte”, no feminino. Alguns acreditam que o nome tem origem na palavra “creole”, ou seja, Crioulo, a principal língua africana.
No entanto, os colonizadores portugueses influenciaram muito as comunidades da África Ocidental. Assim, o termo pode ter vindo da observação dos portugueses que o viam como um “gritador” em praças públicas.
Outros dizem que o termo significa algo como “criado”, em francês. Também pode ter se originado no “grelot”, os chocalhos que o artista leva no cinto e amarrados nas pernas.
Como as histórias contadas pelo griot sobreviveram?
No passado, o contador de histórias andava de povoado em povoado, sempre atento a tudo que acontecia ao redor. Ele colhia histórias épicas e canções para recontar em rodas de conversa em outros lugares.
Consigo, levava instrumentos musicais como o balafone, a kora, e o akonting, “primos” do xilofone, da harpa e do banjo, respectivamente. Para que as histórias sobrevivessem, elas deviam ser memorizadas e repetidas sem erro.
Ao longo dos séculos, gerações e gerações de pessoas se reuniram pra ouvir as histórias contadas pelo griot. Foi assim que muitos elementos da cultura africana resistiram às fronteiras do tempo e do espaço.
Na cultura africana, ele é considerado mais do que um simples artista e é de uma casta destacada na sociedade. Para que você tenha ideia, ele já nasce para exercer o ofício e é normal que griots e griottes só se casem entre si.
Muito dos ritmos que se desenvolveram na América do Norte, em especial o blues, tem base na música tocada pelo artista. Com o tempo, os próprios cantadores africanos foram influenciados pela música estrangeira.
Até mesmo a guitarra elétrica foi incorporada. Na década de 1950, vieram as primeiras gravações em disco. O mais provável é que a primeira artista do Mali a gravar tenha sido a griotte Koni Coumaré.
Quem é o djéli?
“Djéli” é um nome que vem do francês e pode ser escrito “jeli” ou “jali” em português. Além de informar e educar, ele tem o papel de entreter, atuando como trovador, contador de histórias e animador público.
Suas habilidades também podem servir para a sátira, a fofoca e o comentário político. Fazendo uma comparação com a cultura brasileira, é algo próximo ao que o repente e o cordel fazem.
A tradição dá ao djéli a liberdade de florear e até mesmo acrescentar fatos para atrair o interesse do público. Em seus contos maravilhosos, forças sobrenaturais, animais falantes e a natureza viva participam das narrativas.
Quem é o doma?
O “doma” é considerado uma pessoa mais equilibrada, sábia e um griot de classe superior. Muitos são intelectuais instruídos e levam a calma para onde vão, chegando até mesmo a resolver conflitos.
Sua função vai além de transmitir as histórias tradicionais africanas por meio da música, da dança e da contação de histórias. Ele também organiza e comanda as reuniões da comunidade e pode atuar como conselheiro da família real.
O doma é conhecedor de diversas ciências e, ao contrário do djéli, tem compromisso com a verdade. Ele é embaixador, genealogista e passa à frente os conhecimentos sobre as plantas, a arte, a poesia, as canções e os mitos.
Griot e a literatura
O griot é representante de famílias, povoados e nações inteiras fundadas na tradição oral. Em países da África Ocidental, inclusive, seu papel foi mais importante do que o dos livros.
Pense que as memórias auditiva e visual eram tudo que muitas comunidades antigas tinham para a transmissão dos saberes e fazeres. Assim, eram as palavras contadas que criavam os valores e a identidade desses povos.
Um dos contos mais célebres é o de Sundiata Keita, fundador do Império Mali. No Brasil, sua trajetória foi adaptada recentemente em um livro escrito por Tadeu Sarmento e ilustrado por Silvana de Menezes, publicado pelo Grupo Lê.
O catálogo do Grupo Editorial Lê é amplo e variado. Entre os títulos, estão Contos de Olófi, Gente vestida de noite e A trapaça da serpente, além do já citado Sundiata – O filho de Sogolon.
As obras acima são fortemente influenciadas pelo ofício do griot. Clique na imagem e confira a última edição do catálogo. Para ter a nossa ajuda e levar o melhor para sua escola, biblioteca ou para levar para casa, entre em contato!