Jornada do herói é a estrutura de várias histórias. Conheça os 12 passos

Uma pessoa é chamada para uma missão, que a tira do conforto para entrar em um mundo desconhecido. Ela passa por ritos de iniciação, vive uma grande aventura e, depois de vencer a batalha, volta para casa, mais sábia e poderosa.

Te parece já ter visto essa história antes?

A verdade é que essa estrutura narrativa está presente em culturas de muitos cantos do mundo, em várias épocas: mitologia grega, histórias bíblicas, contos de fada, obras independentes, sagas épicas, filmes recordistas de bilheteria…

O que caracteriza a jornada do herói?

Esse conceito foi concebido pelo escritor e mitologista Joseph Campbell no livro O herói das mil faces, publicado pela primeira vez em 1949.

Na tese, o modelo foi chamado de “monomito”, termo tomado emprestado de uma obra de James Joyce. Ainda assim, há registros de 1871 em que estudiosos já tinham notado o padrão.

Os arquétipos de Jung, as forças inconscientes de Freud e a estruturação dos ritos de passagem de Gennep foram as principais influências da pesquisa de Campbell.

Baseado em Campbell, o roteirista da Disney Christopher Vogler criou o memorando A jornada do escritor. Nele, a estrutura era ainda mais simplificada, diminuindo os passos da jornada do herói de 17 para 12.

Um dos motivos de essa fórmula fazer tanto sucesso é a capacidade de trazer valores e outros ensinamentos. Além disso, é muito fácil se identificar com os personagens e as situações pelas quais eles passam.

A seguir conheça os passos da jornada do herói. Os elementos presentes em alguns deles podem aparecer em narrativas não na forma literal, mas simbolicamente.

1. Mundo comum

Menina, na neve, segurando lamparina.  Ludmila e os 12 meses, página 22. Imagem ilustrativa texto jornada do herói.

Apresentação da vida cotidiana do protagonista antes que a aventura, propriamente dita, comece. Aqui, conhecemos ele em sua zona de conforto, no lugar onde vive, cercado de familiares, amigos e pessoas da comunidade.

Essa parte é importante para que a gente perceba o contraste entre este mundo ordinário e o que virá depois da transformação.

2. Chamado para a aventura

Algo acontece. Ou então, surge a notícia de que um evento grandioso pode acontecer. Assim, o herói é tirado da sua zona de conforto e precisa cumprir uma missão ou atingir um objetivo.

Esse problema, desafio ou convite à aventura o lança ao desconhecido, que pode ser uma terra distante, uma floresta, um reino subterrâneo…

3. Recusa do chamado

O herói não aceita o desafio prontamente. Antes, reflete sobre o motivo e a urgência do chamado, comparando com sua vida atual. Receio, dúvida ou insegurança faz com que ele se recuse ou demore a concordar.

Aqui, percebemos o quanto o herói precisa amadurecer. Esse também é um estágio importante criar identificação com o personagem e a situação.

4. Encontro com o mentor

Uma figura mais velha e benevolente, ou força protetora sobrenatural, treina ou dá informações ao herói, convencendo-o a aceitar o chamado.

Em muitos casos, o mentor é especialista no problema em questão e oferece um instrumento mágico ou sagrado. Esse instrumento será um auxílio ao longo da aventura ou será conveniente em um momento decisivo.

5. Travessia do primeiro limiar

A definição do que é uma aventura consiste na passagem pelo véu que separa o conhecido do desconhecido. É nesse ponto que o protagonista abandona o mundo comum para cruzar o primeiro portal e entrar no extraordinário.

Menino no barco. Issum Boshi - O pequeno samurai, página 9. Imagem ilustrativa texto jornada do herói.

Essa travessia é perigosa e envolve riscos. O portal pode ser, inclusive, uma barreira física já conhecida, mas que todos temem.

6. Provações, aliados e inimigos

Com a apresentação mais a fundo do desconhecido, a tensão aumenta. O antigo “eu” do personagem morre, e os desafios vão o forçar a se transformar.

Enfrentando inimigos e uma série de obstáculos e, ao mesmo tempo, encontrando aliados, o personagem vai assimilando as regras daquele mundo. Mesmo falhando nos primeiros testes, ele consegue ir adiante.

7. Aproximação da caverna secreta

Depois de alguns êxitos nos testes, surge uma revelação. O ritmo da narrativa desacelera e ocorre uma pausa na transformação do herói.

Ele finaliza as reflexões e inseguranças que ainda lhe restam. Nesse momento, ele questiona se realmente vale a pena prosseguir com a aventura ou é melhor procurar outra solução ou, simplesmente, aceitar o destino.

8. Provação difícil

Superados os questionamentos, o protagonista decide ir em frente. No entanto, algumas coisas começam a dar errado ou passam a não funcionar como antes.

Ao mesmo tempo, surge um prova de vida ou morte, o que desencadeia em uma crise bastante traumática. O clima de tensão nesse trecho faz com que seja um dos pontos mais marcantes da narrativa.

9. Recompensa

Agora mais seguro, o herói está visivelmente transformado. Por ter superado tantas dificuldades, o medo e a morte, recebe uma dádiva.

A recompensa pode vir na forma de um novo poder, uma arma ou outro objeto importante, ou até mesmo a reconciliação com uma pessoa querida. Aqui, é comum que as pessoas que antes o menosprezavam passem a respeitá-lo.

10. Caminho de volta

Desenho de menino e menina em barco de brinquedo. Página 22 do livro Viagem a vapor.

Saindo do mundo extraordinário que o transformou, o herói segue em direção ao local do início da história. O inimigo ainda não foi derrotado por completo e, por isso, o caminho continua oferecendo perigos, mesmo que em menor grau.

Esse é um momento de reflexão, em que é preciso escolher entre realizar um desejo pessoal e buscar um bem coletivo maior.

11. Ressurreição

Chega o momento pelo qual tanto esperamos. Mais uma vez, o herói enfrenta a morte. A diferença é que agora ele usa poder ou conhecimento adquirido.

Diferentemente do que ocorre no passo 8, aqui, o problema é solucionado de vez. O inimigo é derrotado e o herói alcança o objetivo, se reconcilia com alguém ou conquista seu par romântico. Seu caráter também se transforma.

12. Retorno com o elixir

A paz volta a reinar. Amadurecido e de volta ao local do início da história, o herói tem sua nova vida em um patamar superior.

O elixir pode ser tanto algo físico como uma lição aprendida ou até mesmo a própria transformação do personagem. De todo modo, é algo usado para ajudar a todos da família ou comunidade.

Clichês da jornada do herói não são problema!

Uma história pode ser construída com base na estrutura da jornada do herói, mesmo que não siga todos esses 12 passos. Apesar do que parece, há muita flexibilidade, e as possibilidades são infinitas

Há várias outras referências narrativas usadas incontáveis vezes. Saiba que uma obra não tem valor menor por ter ideias pré-concebidas! O segredo está em ser capaz de inserir elementos originais dentro delas.

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