Enquanto a criança cresce, muitas coisas tristes acontecem ao seu redor, envolvendo pessoas que ama e até mesmo diretamente com ela. Com isso, muitos adultos fazem de tudo para protegê-la de temas sensíveis.
Sem saber o que fazer, alguns desviam a conversa, fingem que não aconteceu nada ou pior: mentem. Saiba que a literatura pode ser uma aliada para dar força e ajudar a criança a encontrar as respostas que procura.
As histórias possibilitam que ela se veja no lugar do outro. De certo modo, proporcionam experiências mais ricas do que muitos casos reais. Afinal, a ficção cria um ambiente seguro, facilitando o caminho para um diálogo honesto.
Dá para tratar com o público infantil sobre de todo tipo de temas sensíveis: morte, violência, solidão, preconceito, abandono, separação, abuso e outras questões emocionais e sociais. Veja as sugestões que separamos a seguir.
1. Diferentes formas de abuso
É preciso dar voz às crianças sobre as diferentes formas de abuso, e o assunto deve ser tratado de forma honesta. O gato da árvore dos desejos consegue fazer isso ao mesmo tempo em que o texto é lúdico e estimula a imaginação.
Fugindo dos cachorros, um gato sobe em uma árvore e nunca mais desce. Lá em cima, conhece uma menina que também sabe se equilibrar em galhos e se esconde para fugir de algo. Ele precisa superar seu medo para salvar a amiga.
2. Perda da liberdade de respirar
Imagine um dia a Amazônia virar um grande deserto e as pessoas perderem o privilégio de respirar livremente. Imagine ter de andar por aí com um pequeno cilindro de oxigênio, como se fosse um acessório da moda.
O livro Ainda uma flor resta também faz menção ao Holocausto e à escravidão, outros temas relacionados à falta de liberdade. Ainda assim, ao mesmo tempo em que é impactante e cria temor, a obra traz um grito de esperança.
3. Ausência de um modelo paterno
Todo mundo precisa de alguém para dar carinho e coragem, em qualquer fase da vida. Ainda assim, Meu pai, minha rocha mostra como é perfeitamente possível dar uma boa criação, mesmo sem ter um modelo para se inspirar.
Na história, nem filho nem pai conhecem o avô. Com a sinceridade inocente típica das crianças, o menino imagina o que diria se pudesse encontrá-lo. Ao imaginar sua futura família, pensa em que tipo de pai ele será.
4. Preconceito que persiste nos dias atuais
Uma professora muito especial é descrita sutilmente em meio aos fragmentos das conversas dos adultos. Assim, um leitor mais desatento pode terminar o livro sem perceber as pistas da narrativa sobre suas características físicas.
Por isso, Tia Vilma é muito mais do que um convite à reflexão sobre o respeito e a aceitação das pessoas consideradas “diferentes”. Esse é um livro que valoriza os professores, a escola, a criatividade, a pureza e o mundo das letras.
5. Diferenças entre os tons de pele das pessoas
Em um acampamento, uma menina sai para passear e encontra um camaleão no caminho. Os dois falam sobre as dúvidas que têm. Ele pergunta qual é a cor da menina, e ela responde que tem várias delas em seu corpo.
No fim, acabam brincando como velhos amigos. É dessa forma delicada e poética que A menina e o camaleão fala de cores, identidade e diferenças. O livro convida os pequenos leitores a refletirem: será que a cor da pele importa?
6. Masculinidade tóxica
A sensibilidade e a delicadeza fazem parte da essência humana, não apenas do universo feminino. O livro O menino e a flor é indicado não só para as crianças, mas para todos que já foram reprimidos por algo que gostam.
Conheça uma criança que adora as coisas pequenas e belas da vida. O pai, no entanto, sempre o repreende, dizendo que é preciso “ser macho”. Com isso, o menino passa anos sem cantar, dançar, pintar, colher flores… e sem sorrir.
7. Dura realidade de pessoas que vivem na miséria
Ao mesmo tempo em que toca em assuntos sérios, Aquilo que não se vê conta com o humor, a ironia e a personificação de seres inanimados. Logo no início do livro, temos um retrato de um grupo cheio de expectativas.
Apesar das mazelas do cotidiano, todos eles sonham com um futuro melhor. O tempo passa e a realidade é bem diferente. Depois do fim da história, uma outra foto hipotética acena ao leitor outras possibilidades.
8. Solidão na infância e na velhice
Infância não é sinônimo de alegria. Velhice não é sinônimo de solidão. A felicidade e a tristeza estão na vida de pessoas de qualquer idade. Há um sol na solidão de Eduarda é um livro carregado de símbolos para os sentimentos.
Eduarda se sente triste e sozinha no dia do seu aniversário. Seu pensamento se reparte em comparações entre a infância e a velhice. Com a chegada da avó, um diálogo leva a menina a refletir. Um texto terno, honesto e revelador!
9. Voz contra o assédio
Uma baleia-menina está nadando, até que um polvo chega com indiscrições. A baleia se sente esquisita e o polvo pede segredo. Depois de um tempo, eles se reencontram e a baleia reage, dizendo os “nãos” que havia engolido.
Com delicadeza, Leila alerta para o poder da voz, principalmente contra o assédio e a violência infantil. A ambientação do fundo do mar é usada para falar simbolicamente sobre o inconsciente e a força vital de cada um.
10. Luto materno
Joaquim se encanta com a simplicidade e com a paisagem que o cerca. Ele sonha ter uma semente no umbigo, para que brote como raiz e vire árvore. No entanto, a mãe se entristece à medida que a saúde do filho se agrava.
Um dia, o desejo de Joaquim se realiza. Quando o ciclo natural da vida se inverte, a mãe planta uma semente e passa a visitar a árvore todas as tardes. Em Como natureza, um menino guarda dentro de si o segredo da vida.
11. Adulto de difícil convivência
Em Para o Seu Almeida, com um abraço!, conheça um homem arruaceiro e sem educação. Ele joga bituca de cigarro em qualquer lugar, fala coisas estúpidas para meninos em cadeiras de rodas e grita com a mulher.
Isso incomoda muito três melhores amigas. Então, elas põem em ação um plano para que o Seu Almeida deixe de ser impaciente e passe a sorrir. Quem sabe a dor na consciência traga uma mudança de comportamento?
12. Dificuldade para se manter na escola
O ideal é que a escola seja acolhedora, de modo que motive o aprendizado e o desenvolvimento humano. Para isso, é preciso que os educadores tenham um olhar atento e saibam como atrair os interesses dos alunos.
“Jogando me esqueço da fome (…) No campo, eu sou gente, com nome e amigos.” Por meio do texto poético de A grande jogada, conhecemos um menino com dificuldade de se manter na sala de aula, mas que ama o futebol.
13. Separação dos pais
Dois irmãos discutem: “Só as roupas foram embora. O meu pai não.” Os diálogos e a visão infantil sobre certas atitudes dos adultos são retratadas com propriedade em As roupas do papai foram embora.
Ao longo dessa coletânea de contos, as crianças, os adultos, os animais e até os brinquedos ganham voz. É assim que o humor, a emoção e o clima de delicadeza se misturam a temas sensíveis e a cenas do cotidiano.
14. Inadequação por causa da cor
É possível divertir e tratar de temas sensíveis com as crianças usando apenas as imagens. Em Bééé, uma ovelha branca é marginalizada pelo seu grupo, formado por bichos da mesma espécie, porém, pardos.
Um dia, ela cai na lama e acaba ficando marrom, igual às colegas. Quando a chuva cai, a semelhança é desfeita. Por fim, a ovelha branca solta um berro libertador, aceitando sua identidade e fazendo-se respeitar pelo grupo.
15. Dores emocionais
Em Essa dor tem outro nome, conheça a menina Laura, uma “maria das dores”. Ela sente dores todos os dias, em casa, na escola, cada vez em uma parte diferente do corpo. Com isso, os pais a levam ao médico.
O médico diz que ela está ótima, e que essas dores se chamam “manha”. Aos poucos, Laura descobre o que eram suas dores: medo, tristeza, raiva, não querer comer… Até que um dia a menina adoece de verdade.
16. Medo da morte
Todos os seres vivos vão morrer um dia… Lina é narrado em primeira pessoa por uma menina que tem uma doença terminal e está internada. No leito do hospital, ela fala sobre suas sensações, sonhos e delírios.
Apesar da percepção sobre o seu próprio fim, seu tom é espirituoso e de fina ironia. O texto é belo, poético e contemporâneo, sem carregar nos dramalhões e sem esperar por um milagre que pode não acontecer.
17. Realidade assustadora
Para uma vida plena, é preciso ter coragem. No entanto, Monstros da cidade grande mostra como o medo pode ser importante para a nossa segurança. Em suas histórias, não estão monstros como os do cinema ou da televisão.
O livro fala de ameaças que tiram o sossego na vida real e que se disfarçam muito bem. Entre eles: o Velho do Saco, a Senhora Sorridente, o Traficante de Drogas, a Coisa Monstruosamente Monstruosa e o Bandido das Balas.
18. Perda de uma pessoa amada
“Essa viagem que o Vovô fez foi de quê? (…) As pessoas sempre viajam de alguma coisa: barco, trem, avião, ônibus…” (…) “Acho que foi de trem. Embarcou e foi indo por um trilho comprido, a perder de vista…”
O fato de o avô não aparecer mais intriga a netinha. Nem a mãe, nem o pai, nem ninguém tem respostas para as perguntas da menina. Vovô foi viajar consegue tratar de temas sensíveis com delicadeza e inteligência.
19. Família que convive com o Alzheimer
Vó Cila se planta na Lua e lá resolve fazer seus docinhos, enquanto prepara o enxoval de noiva para se casar (outra vez) com Vô Nico. Com o tempo, a mãe e a cuidadora percebem que ela precisa construir uma nova união feliz.
Em Um casório na Lua, testemunhamos o cotidiano de uma família que convive com o Alzheimer através do ponto de vista infantil. O livro encontra as palavras certas para misturar aceitação e saudade com o universo mágico das crianças.
20. Abandono na infância
Às vezes, a fantasia está tão bem misturada com a realidade que fica difícil desembaralhar as cartas do baralho da vida. Em O encantador de pirilampos, três narradores contam a história da solidão de um menino.
Sem parentes, maltrapilho, meio fraquinho, ninguém sabia ao certo de onde ele vinha. Sua história tem uns pedaços tristes. O desfecho, no entanto, acena para outras descobertas, “porque a vida também gosta de brincar de final feliz”.
Além dos temas sensíveis
Entre os títulos que fazem parte do catálogo do Grupo Lê, há temas sensíveis, alegres e outros que convidam a pensar e refletir. Clique na imagem e confira a última edição. Entre em contato conosco e leve o melhor da literatura.